Andando por perto

Talvez sejamos nós o resultado de toda e qualquer interação humana uma vez existente. É inevitável. Seja um trejeito, um pensamento ou um interesse particular. Nesse confuso e profundo espaço em que armazenamos tudo o que aconteceu ao longo da vida, habitam frações de tudo aquilo que se experimenta, sente e visualiza.

Percebi isso enquanto ouvia uma música e reproduzia um movimento específico de uma amiga da época de escola. Naquele instante, eu abri a caixinha que contém milhares de memórias de alguém que um dia fez parte da minha vida, mas hoje não mais.

Como é mágico poder acessar o tempo e o espaço por meio de um simples ato, como escutar uma música, sentir um sabor ou cheiro específico. Isso me fez questionar o quanto uma pessoa pode se manter viva em outra. O quanto carregamos pessoas que nem estão mais aqui, em nós? Uma fala, um gesto ou um sentimento. Talvez os filhos sejam a materialização dos pais, e assim por diante.

Quantas gerações precisam vir para uma deixar de existir? Será que eu ainda carrego questões e dores que uma vez foram de alguém que eu nunca tive a chance de conhecer? O quão ligada eu estou aos meus antecessores?

Um dia, eu acordei e me vi mais parecida com o meu pai. Não porque alguém me falou, mas porque eu notei um traço singular de sua personalidade despontando em mim. Fiquei agoniada, me perguntei quantas coisas mais que habitam no meu ser estão para vir à superfície? Será que existe um eu sem o outro? O quanto eu posso dizer que um desejo é genuinamente meu, e não um fragmento de todas as coisas expostas a mim? O que sou eu sem o outro, e mais ousadamente, o que é outro sem mim?

A.M.

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