Por muito tempo eu deixei com que o externo determinasse o enredo da minha vida. Que as circunstâncias ditassem o meu próximo passo, e procurava na opinião alheia as respostas para as minhas questões internas. Acreditava que minha vida só iria para frente se nenhum planeta estivesse retrógrado e que se algo dava errado é por que “não era para ser”.
A passividade me facilitava em não ter que me responsabilizar pelas minhas decisões e atos. O que, consecutivamente, me aliviava em não ter que lidar com as frustrações. Contudo, cada dia mais a insatisfação crescia. Ainda transferindo a culpa para o planeta que estava em aspecto tenso, eu me sentia mal por estar vivendo a mesma situação. Eu não queria seguir em frente, mas não aguentava mais o lugar que me encontrava.
Os dias foram passando e o desconforto aumentando. Deixei de acreditar nos meus sonhos e correr atrás das minhas vontades. Fui desistindo dos meus hobbies e não tinha mais motivação. Tudo foi ficando mais blasé e vazio.
Até que chegou o dia que eu mais temia.
Quando eu me mudei para Portugal, eu sabia que eu tinha um prazo. Ter me mudado para o país veio da oportunidade de estudar um ano do meu bacharel em uma universidade daqui. Os exames terminaram e o que me restou foi a escolha de ficar ou regressar.
Acostumada a fugir do confronto, automaticamente fui em busca de sinais ou qualquer coisa que me indicasse qual era a decisão certa a ser tomada. Sem ao menos considerar o que eu queria fazer, comecei a questionar amigos, livros, oráculos e até mesmo desconhecidos. Com tantas opiniões e formas de pensar eu fui ficando mais confusa e imparcial. Aterrorizada com o momento eu tive que fazer o mais difícil: confrontar a mim mesma.
Inicialmente fui complicado tentar achar o caminho para dentro. O desconforto em lidar com os sentimentos e acordar a voz que tinha sido silenciada há tanto tempo. Nada disso aconteceu de um dia para o outro. Ao contrário, foi um processo. Comecei desenhando eu mesma nas duas situações. Imaginando quais seriam as possibilidades se eu ficasse ou se fosse para o Brasil. Depois fui avaliando o que seria renunciado se escolhesse um caminho.
Mais tarde, quando entendi os prós e os contras, pude enxergar melhor como seria a eu do futuro em ambos lugares. E sem que eu falasse nada, comecei a sentir lá dentro algo maior apontando a direção que tinha que ser tomada. Uma das duas opções foi ficando mais forte e, naturalmente fui ficando mais animada com aquela persona. Fui enxergando mais caminhos, mais oportunidades e me encontrando mais.
Quanto mais eu acreditava que aquela era a escolha certa, mais eu me sentia que estava tomando rédea da minha vida. Fui me sentindo mais forte, mais determinada e, até mesmo, passei a enxergar as desculpas que eu contava a mim mesma para não ter que sair da minha zona de conforto.
Sem mágica e sem fórmula secreta, eu cheguei a conclusão. Agora eu sabia qual seria o meu próximo passo e eu estava confiante da decisão. E ter passado por todo esse processo me mostrou como nada e nem ninguém poderia ser maior do que eu mesma na minha vida. A escolha sempre deveria vir de mim, e ir de encontro as coisas que eu acredito.
Demorou um tempo para reconquistar essa autoconfiança. Porém, quando aconteceu, percebi que se firmou dentro de mim. Cresceu a vontade de fazer diferente, de me dar a chance de realizar os sonhos que ficaram para trás. Relembrei o que genuinamente era meu e deixei de lado o que era dos outros. Dessa vez as coisas seriam diferentes porque eu faria por mim. Dessa vez eu, não as circunstâncias, que tinha decido em voltar para o Brasil.
A.M.

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