Nova versão

Em uma noite fria sob a queima dos fogos, foi possível sentir um golpe de esperança de um novo capítulo que se iniciava. Um começo sempre traz a vontade de fazer com que as coisas

sejam diferentes ou melhores do que são. Seja um novo pensamento, projeto ou até um novo hábito. É quando o relógio zera e a última folha do calendário se vai, que promessas são feitas.

Por mais que nada do que eu queria, estava muito claro para mim, eu sabia que estava à beira de algo. Intuitivamente, eu notava que algo estava sendo finalizado para que outro florescesse. Ainda assim, estava muito cedo para chegar a conclusões, ou era isso o que eu achava.

Na mesma noite, recebi uma mensagem de alguém que já foi caro para mim no passado. A verdade é que nada do que foi escrito me surpreendeu, mas sim a forma de como eu reagi àquilo. Além de ter enxergado aquela situação sob outra ótica, eu tive um lampejo de uma versão minha que estava a nascer.


Há um tempo, em uma conversa daquelas que você se abre por completo, uma amiga minha me disse que o só o tempo poderia trazer as respostas para todas as perguntas que eu fazia. Naquele momento, eu só conseguia sentir frustração por não ter controle das coisas que aconteciam em minha vida. Para mim, esperar com que as coisas naturalmente chegassem a uma conclusão, era como não ter a capacidade de encerrar o sofrimento que eu tinha em minhas mãos.

Impotente e sem soluções, deixei com que o tempo me mostrasse se era realmente capaz de conduzir as situações.

Anos se passaram e coisas maiores foram aparecendo na minha caminhada, fui me distraindo com outras coisas e vivendo novas experiências. Por muitas vezes, aquelas frustrações foram ficando menores perante ao que estava acontecendo. Fui encontrando coisas que tinham mais a ver comigo e, dessa vez, parecia que eu tinha finalmente começado a entender quem eu realmente era. O que facilitava muito na hora de escolher e reconhecer o que eu queria.

Novas pessoas entraram na minha vida e fui aumentando minha perspectiva de mundo. Fui me afastando do que não fazia mais sentido e, quem não se identificava mais comigo também foram embora.

Eu refinei meu gosto musical, comecei a ler novos autores e comecei a consumir arte do mundo inteiro. Mudei o corte do cabelo, parei de pintar a unha de preto e a usar roupas muito formais.

Viajei milhares de quilômetros, seja de avião, de carro ou de trem. Fiz outras tatuagens e senti que cheguei no limite delas. Comecei a entender poesia e parei de usar sacola plástica. Voltei a praticar exercícios e notei que não tenho mais saco para a natação.

Me dei a chance de conhecer muito daquilo o que eu sentia, e amadureci muito dos sentimentos que eu tinha dentro de mim. Entendi que nunca é muito tempo e para sempre não existe. Mudei as plantas de lugares e deixei a minha orquídea morrer. Comprei o mesmo batom que eu uso há dez anos, mas é porque a cor dele combina muito com meu tom de pele.

E em um piscar de olhos os vinte e cinco chegaram para mim.


Ao receber a mensagem de alguém que já foi caro para mim no passado, eu não me surpreendi com o que estava escrito, mas com a forma com que eu reagi. Há alguns anos eu não saberia lidar com essa situação, só que dessa vez foi diferente.

Quando minha amiga Laura disse que só o tempo traria as respostas, eu senti quase como se algo maior estivesse tirando o domínio da minha própria vida. No entanto, eu entendi que o tempo não remove nada, ele nos prepara.

Um novo ano estava a iniciar, e mesmo sem ter certeza de nada, eu sabia que boas escolhas seriam feitas, pois, agora eu estava confiante para ser o que o tempo construiu.

A.M.

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