Todos os dias somos orientados e, muitas vezes, pautados pelas horas. Desde o alarme do despertador, até a insatisfação em perceber que já está tarde demais para assistir mais um episódio da séria nova, nos baseamos na marcação do relógio. É quase impossível contar quantas vezes um indivíduo verifica que horas são, porém, pouco significado tem esses números.
Quando o último dia do ano chega, o tempo passa a ter outra definição. A passagem de um ano para outro traz consigo uma nova perspectiva, a esperança de que tudo pode ser diferente e, que um capítulo se encerra para outro iniciar. Em uma fração de tempo ponderamos erros e acertos, os acontecimentos e os não acontecimentos, e, o que continua consigo e o que precisa ser deixado para trás.
Inevitavelmente, conforme o ano foi se aproximando de seu fim, eu comecei a me questionar qual seria o próximo passo. O que eu desejava para essa nova fase, o que eu gostaria que continuasse e o que eu deixaria para trás. Sem perceber, revisitei as memórias dos doze meses que se passaram. Lembrei dos lugares que eu visitei, os sonhos que eu realizei e as pessoas que eu conheci.
Morar em outro país não era novidade para mim, mas eu sabia que indiferente da casualidade, desafios seriam enfrentados. Ao contrário da minha primeira experiência, ter me mudado para Portugal me fez olhar muito mais para dentro e refletir coisas que nunca tive a oportunidade e tempo para fazer.
O início foi complicado, me fez questionar sobre minha importância no mundo e a solidão. Naquele momento, eu percebi que tinha duas escolhas: mergulhar na profundidade do meu ser, ou optar por ficar no raso. Ainda sem saber se foi uma escolha ou as circunstâncias, eu me joguei nas minhas águas mais profundas. Hoje, percebo que ter vivido momentos de silêncio e ter me conectado com o meu interior me ensinou que tudo o que eu preciso já está em mim.
Entre os altos e baixos da natação particular, eu também me permiti a viver o outro. A atração, o envolvimento, a intimidade, as emoções e o abandono. Sem perceber eu tive a oportunidade de me relacionar com diferentes pessoas de forma única. Descobri novas formas de amar e que nem toda história precisa de um final feliz. O momento é mais importante do que a narrativa, e o prazer dos encontros é poder conhecer o diferente e se reconhecer em alguém.
O ano passou muito rápido, mas também muitas coisas foram vividas. Ao pensar no próximo ano, eu só consigo visualizar uma página em branco pronta para receber novas histórias. Dessa vez eu quero ir com mais sonhos e menos expectativas. Acreditar que tudo é possível para quem acredita, mas entender que nem sempre o que queremos é aquilo que precisamos.
Todos os dias somos orientados e, muitas vezes, pautados pelas horas. Desde o alarme do despertador, até a hora de dormir. Contudo, esses números, muitas vezes, não significam nada. E se tem algo que eu apreendi nesse ano é que, as melhores coisas acontecem quando perdemos a noção do tempo.
A.M.

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