O clique, o empurrão e a eletricidade

A paixão. Um sentimento leviano, porém, estrondoso. Chega sem avisar e toma conta dos seus pensamentos. Você sai do modus operandi quando uma pessoa atravessa o seu caminho. Da noite para o dia, você passa a não distinguir o sonho da realidade. Nada importa desde que se viva a intensidade do que vem de dentro.

Na Grécia antiga, acreditava-se que paixão era como uma doença. Além de trazer sofrimento para a alma, também indica passividade, tirando o poder de ação de qualquer ser humano. O que, em termo de batalhas e guerra, era o mesmo do que ter um soldado ferido, ou alguém enfeitiçado.

Nos dias atuais, a liberdade de escolha é um pouco diferente, e, de certa forma, não somos criados para combatermos outro reino. Contudo, o sentimento ainda existe e, todos nós já experimentamos ou vamos experimentar a veemência de estar apaixonado.

A má notícia é que não existe uma fórmula para você se esquivar do efeito, basta alguém aparecer para que tudo ao seu redor mude de cor e forma. O seu coração dispara, o desejo desperta e você só quer viver a chama do fogo que arde dentro de ti.

A boa notícia é que não existe nada mais genuíno do que entregar-se a um sentimento. Ele pode assustar, mas ele traz excitação. As coisas passam a ter mais sabor e um dia chuvoso se transforma em um lindo dia de verão.

O momento em que se passa a conhecer alguém é como adentrar em um universo. Você começa a pisar em novo território, e o único mapa são as experiências e referências atribuídas no passado. Nada é certo e tudo pode ser diferente. Uma linha tênue entre o que se sente e o que se diz, é o portal para toda a fantasia se manifestar, e você começa a ser levado para um estado secreto de inquietação.

O tempo passa e você vai saindo da penumbra da paixão e começa a enxergar a realidade como ela é. Esse é o ponto da quebra. O momento em que ou você avança para o próximo nível ou decide encerrar a história que foi vivida.

Quando duas pessoas decidem dar o segundo passo, a maturidade chega. Adversidades começam a ser apresentadas e não existe mais só o doce e o belo. Problemas chegam e as discussões também. Essa é a hora em que se pergunta se vale a pena estar ali, ou, se chegou o momento em que é melhor escalar a montanha sozinho.

Se optar em encarar as coisas com esse alguém, pode ter certeza que muitas expectativas vão ser quebradas, e assim, a paixão será deixada. Entretanto, um novo sentimento estará esperando do outro lado. Esse sentimento é o amor. Ao contrário do que se pensa, amor e paixão não necessariamente andam juntos, muitas vezes, eles são completos opostos.

Amar é uma construção diária, cheia de ajustes e crescimento. Paixão é devastador e quebra tudo o que está pela frente. Enquanto o amor é cuidadoso e zeloso, a paixão é ardente e delirante. Tudo o que se obtém através do amor é firme e estruturado, já quando está apaixonado, pouco se é concreto e sólido.

Há quem não goste de se apaixonar e prefira coisas práticas. Nesse caso, o amor é um ótimo aliado. Para quem gosta de aventuras, a paixão combina com elevar-se ao extremo. Indiferente de qual seja a sua escolha, nenhum desses sentimentos deixam de ser válidos. Tanto o amor quanto a paixão merecem ser vividos.

Uma vez me perguntaram se eu preferia amar ou estar apaixonada, e isso me pegou de uma forma em que fiquei um bom tempo pensando qual dos dois sentimentos eu gostaria de viver. Partindo pelo pressuposto de que gosto da praticidade, mas também amo grandes emoções, descobri que aceitaria ambos na minha vida. Afinal, por mais que os dois sejam totalmente diferentes, e um precisa sair para o outro entrar, eu acredito que eles são complementares.

Todos nós queremos ser amados, mas poucos de nós temos coragem de nos entregarmos ao amor. Isso muitas vezes acontece porque esperamos a paixão. Esperamos o clique, o empurrão, a eletricidade, ou algo maior que nos faça querer mergulhar de cabeça.

Por isso, eu ergo a minha taça e faço um brinde a paixão e a todos aqueles que se permitem viver a intensidade antes do amor.

A.M.

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