Existe uma coisa na solteirice que pouco se fala: a prática. Sempre chega aquele momento em que ou trabalho, ou um projeto ou até mesmo um familiar passa a exigir mais atenção, e sua vida amorosa vai para o ralo. O seu foco muda e sem perceber, sua energia fica canalizada em apenas uma coisa. Os efeitos colaterais são muitos, mas facilmente o que morre primeiro é a capacidade da interação social. Uma vez que você deixa de se encontrar com estranhos, ou sair para festas e baladas, retornar a aquilo se torna mais difícil
Você passa a se acostumar com as roupas largas e não se preocupa mais se a depilação está atrasada. A sua pele te agradece por ter reduzido o número absurdo de maquiagem e percebe o quanto é caro sustentar o estilo que você mesmo tinha criado para si.
Trocar uma noite confortável embaixo do seu cobertor para ir a um jantar em que o outro pode ser tudo aquilo o que você não está procurando, é impossível. Só de imaginar passar horas de pé em uma boate flertando com uma pessoa que não vai vir falar com você e nem você com ela, dá arrepios. A parte mais perigosa de se afastar desse exercício social é que você vicia a não querer sair mais dele.
Com a dinâmica do dia-a-dia sem perceber eu tinha caído nesse limbo. Com uma rotina mais rigorosa e muitas tarefas em um dia só, acabe varrendo a vida social para debaixo do tapete. As pessoas que eu encontrava eram sempre as mesmas, amigos, colegas do trabalho e professores.
Por mais que tinha uma oportunidade de conhecer pessoas entre intervalos de aulas, bares que eu frequentava ou até, quem sabe, na academia. Eu apenas não conseguia ter vontade para fazer isso. Só de pensar que teria que encaixar um encontro entre aulas e horário de trabalho eu me desanimava. Sendo assim, eu poupava os contatos visuais e sempre que possível colocava os fones de ouvido como desculpa para não ter que conversar.
Existe uma coisa que muito se fala: “se Maomé não vai até as montanhas, as montanhas vão até Moisés. ” Eu sei que citar uma passagem bíblica pode não ser muito apropriada para uma coluna que tem sexo no nome, ou que pode soar meio cafona. Mas não existe provérbio melhor para definir a situação.
Em um desses dias caóticos em que você pensa várias vezes se quer pedir as contas, mas fica com medo de ser mandado embora, eu recebi uma mensagem de um desconhecido no Instagram. Curiosamente, essa pessoa não me seguia e muito menos eu a segui na plataforma. Demorou um tempo para eu processar de onde aquele ser humano tinha surgido, mas depois de dois minutos de conversa, caiu a ficha.
Como todo ser humano solteiro que vive nesse século, eu tinha baixado um desses aplicativos de relacionamento para saber qual era o menu do Porto. O que eu não esperava é que mesmo fugindo de toda a interação social, eu tinha mantido o aplicativo instalado no celular. E acredite, quando alguém tem interesse, a pessoa tem interesse.
Levei a conversa até onde dava e quando fui ver uma semana já tinha se passado. Era divertido conversar com aquele desconhecido, principalmente por que ele viva em oura cidade. O que facilitava as desculpas de quebra de agenda ou até mesmo um mau tempo.
Porém, uma hora a conta chega e eu não conseguia mais escapar da pergunta “ e quando nós vamos nos encontrar? “. Pesquisei na internet alguma doença que não seria grave a ponto dele se preocupar, mas que me daria um mês para adiar essa conversa. A frustração veio quando eu percebi que nada encaixava nos meus requisitos, o que me obrigava ou dar um ghosting ou me obrigar a sair com o cara.
Descobri que minha lua em Sagitário nunca negaria um convite de última hora, e acabei cedendo ao encontro. Sentada na pia do banheiro limpando minha sobrancelha, eu me questionava como tinha deixado eu chegar a aquele estágio. Se pelo menos eu mantivesse uma disciplina com alguns cuidados, eu não sofreria tanto de uma vez só
Três horas depois, eu consegui me olhar no espelho e me chamar de boneca. Ao colocar os sapatos de salto eu tinha notado que trabalhar home-office podia ser uma armadilha e ao sair de casa notei que tinha exagerado no perfume. Em certos casos é melhor pecar pelo excesso.
Ao encontrar o desconhecido, logo me bateu um nervoso e desconforto. Minha cabeça só ficava repetindo e repetindo o porquê eu me colocava nessas situações. Mas as coisas foram melhorando conforme fomos conversando, e pouco a pouco fui me entretendo com a pessoa que estava ali e esquecendo de todo o contexto que estava inserida.
No final da noite, nos despedimos e ele pegou o último trem de volta para a sua cidade. Eu não sabia ao certo se nos veríamos de novo, mas com certeza continuaríamos conversando. Talvez ficaríamos só na amizade, mas eu também não me importaria. Muitas vezes, nos cobramos demais resultados efetivos e nos esquecemos de que a melhor experiência que podemos ter é a troca. Depois de ter passado a noite rindo das coisas mais inusitadas possíveis, eu senti que eu estava de volta.
De volta para me abrir para as pessoas e praticar a arte de viver a vida real.
Leave a comment