Em uma noite onde tudo parecia perdido, o acaso bateu a porta e alguém atravessou o meu caminho. Não posso dizer que houve uma conexão imediata ou um clique de paixão. Porém, quando um raio cai duas vezes no mesmo lugar, você se questiona sobre as coincidências. Principalmente se elas vêm com interesse.
Desde que eu tinha trocado contato com um desconhecido no Sports Bar, eu sentia como se tivesse voltado a adolescência. Com quase um metro e noventa de altura, o francês tinha um jeito único de fazer qualquer coisa soar altamente atraente, inclusive eu. Conhecia diversos elogios e não poupava em dize-los. Muitas e muitas vezes. A entonação de sua voz era só mais uma tática de manter a atenção de todos a sua volta. O seu jeito carismático transformava o mundo em uma grande festa, e ele, o anfitrião.
Não demorou muito para ele sugerir um encontro. O que poderia ser um jantar comum, tornou-se muito maior do que eu esperava. Afinal, quando se acostuma com modelos rasos de encontros, qualquer demonstração de cavalheirismo é como ganhar na loteria. E dessa vez, tudo era diferente.
Jean sempre me surpreendia com seus gestos. Mesmo sem saber lidar com suas grandes demonstrações de afeto, eu deixava com que ele conduzisse o momento. Ele sempre fazia questão de me beijar em público e segurar minha mão em qualquer oportunidade. Dentro de mim eu sabia que aquilo era perigoso, mas ao mesmo tempo, porque não vivar a minha própria versão do filme The Holiday?
Com o seu jeito expansivo ele me convencia de que a vida poderia ser fantástica. Ele me contava sobre a sua vida na França e que gostaria de me levar para o sul do país. Fazia incontáveis planos e sempre me inseria neles. Comentava o quanto seus amigos ficariam loucos ao me conhecer, e que eu tinha que experimentar a comida de sua mãe. Antes mesmo da conta chegar, já tínhamos planos suficientes até o próximo ano.
Porém com a mesma intensidade que Jean entrou na minha vida, ele foi embora. No começo foi fácil me convencer de que a história teria continuação. Até porque todos aqueles momentos pareceram ser muito reais, e era impossível aceitar que acabaria assim. Mas conforme os dias foram passando o contato diminuiu e em um estalar de dedos não conversávamos mais.
Ao mesmo tempo que estava perdida por não ter mais aquela pessoa ali, eu sentia o um alívio por não ter que sustentar o que já estava pesado para mim. A cada notificação o meu coração vinha até a boca, e eu sempre me questionava se tinha escrito as coisas certas, na tentativa de não deixar a conversa terminar.
De todo modo, é impossível manter alguém que não quer ficar. Ao analisar os fatos, eu entendi que aquela história tinha chego ao fim, e assim, teria que escolher entre continuar vivendo das expectativas que eu tinha criado, ou seguir em frente. Como estava confortável sonhar com cenários já inventados, eu escolhi continuar vivendo nas minhas fantasias.
Mas uma hora a conta chega e as circunstâncias pedem para que você siga em frente. Então tomei uma atitude e deletei o Duolingo e parei de ouvir a banda cafona que Jean tinha me recomendado. Não fazia mais sentido decorar as músicas de um show que eu não iria.
Voltei a flertar com estranhos, mas sempre me arrependia quando eles pediam meu telefone. Fui me ocupando com coisas que realmente eram importantes, tipo, o me trabalho para pagar minhas contas. Até que um dia eu percebi que eu não pensava mais nele e muito menos stalkeava o perfil do Instagram. Talvez uma ou duas vezes quando estava alcoolizada.
Por mais que muitas pessoas tinham me aconselhado a pensar sobre o lado ruim dele. Eu não conseguia. Eu poderia culpa-lo por ter me deixado ou não querer algo mais sério comigo, mas no final de tudo, essa história não tinha sido feita para ter continuação. Muitas vezes queremos eternizar algo que é para ser um momento, ou só uma experiência.
Demorou um tempo para eu entender o significado daquilo tudo. Até que um dia eu convidei meu amigo para jantar no mesmo restaurante que fomos no nosso primeiro encontro. Logo na entrada, ele ficou encantado que Jean tinha me levado ali e naquele momento eu entendi que algumas pessoas vêm para nos lembrar do nosso verdadeiro valor.
A.M.

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