Quem tem medo da solidão?

Dos filmes que eu ainda guardo em DVD do lado esquerdo da estante da sala, o amor chega de forma súbita. O personagem não pode estar procurando ou nem mesmo olhando para alguém, o andar deve ser distraído e a atitude curiosa, e dessa forma esperar, até que alguém esbarre e mude sua vida por completo. Já das histórias que eu guardo comigo, o enredo é um pouco diferente. Pode ser que não esteja olhando, prefiro dizer ocupada do que “distraída” e, com certeza, se alguém vir a esbarrar, com sorte vou escutar um pedido de desculpas.

Em matéria de amor, tudo soa intuitivo e disruptivo, como se o destino tivesse colocado aquela pessoa no seu caminho, e ela, daqui para frente, vai tomar conta de você, dando sentido a sua vida. Porém, bem mais fundo, você encontra um poço de incertezas e carências que foram desenvolvidas ao longo da vida.

Quando falamos de paixão, tudo é alarmante e incessante, viver sem poder consumir cada parte daquele sentimento é suicídio. Lentamente algo vai tomando conta da consciência controladora, tornando-a compulsiva e repetitiva, até que um dia ela se cura e vai embora. Dando sentido à etimologia da palavra paixão, que está associada ao sofrimento do corpo e a doença.

Nesse caminho de tentar encontrar alguém, acabei encontrando algo muito mais além do que pode caber dentro de outro alguém: as minhas expectativas. O que me faz refletir o quanto eu realmente gosto no outro, e o quanto eu espero que ele preencha aquilo que eu acredito que falta em mim. Muitas vezes, para tentar sobreviver ao ritmo incansável da cidade, ou preencher o tempo de sexta a segunda, é mais confortável ter alguém para sentar no lugar vago. Pensando em tudo isso, não pude deixar de me perguntar: será que é mais fácil enfrentar a batalha fria do amor, ou o fogo perturbador da paixão, do que encarar a vida sozinho?

Depois de tantas histórias falidas e encontros desgastantes, decidi tirar um tempo para apenas não focar em alguém, ou estar com alguém. Trocando as noites por dias e criando hábitos que só dependia apenas de mim ir lá fazer. No começo, é quase como se estivesse de bicicleta e acabou de tirar as rodinhas traseiras, sente-se falta de algo mas ainda consegue pedalar sem muitas dificuldades. Depois de um tempo, é quase como se nunca tivesse tido aquelas rodinhas, até que chega o momento que você se pergunta se algum dia precisou realmente delas.

O processo de ser apenas unidade, me mostrou o quanto de tempo é levado em pequenas preocupações e medo do outro não se satisfazer com suas escolhas. Comecei a perceber que existe um leque de possibilidades e alternativas, e que se eu estivesse acompanhada, talvez não poderia ter o impulso de dizer sim. Aliás, o número de vezes que eu disse “sim”, sem ao menos ter que pensar em ter que contar o porquê dessa decisão.

Estar em par tem suas vantagens, é divertido ter alguém para compartilhar e dividir aflições, mas que isso não seja motivo para eu estar ali. Na busca de encarar a solidão eu pude entender que primeiro eu preciso enfrentar quem eu sou, e uma vez que eu me sentir satisfeita com o que tem dentro de mim, eu posso estar muito mais presente e inteira na hora de estar com alguém. E o mais importante, não demorar em nenhum relacionamento por medo de ter que voltar a estar comigo mesma, até porque, eu sei que com ou sem alguém, eu sempre vou estar lá.

A.M.

Leave a comment

Comments (

0

)