São Paulo é composta por diversos bairros tradicionais que oferecem cultura de outras nacionalidades sem perder o jeitinho brasileiro. Por outro lado, a cidade se transforma a todo tempo. Prédios são demolidos para outros mais modernos entrarem, avenidas vão se alongando para conectar uma região a outra. Tudo vai mudando rapidamente a todo momento, e a aceleração é parte desse processo criar e renovar.
Para quem gosta de contemplar e ver as flores crescerem, a rotina paulistana não vai proporcionar tempo para você curtir. No processo de transformação a todo tempo, existe uma grande oportunidade de ser livre. Não se apegar a nada é a única forma de não se prender a nada, mas para isso é preciso muito fôlego e pouca emoção.
Na tentativa de viver um pouco do momento, peguei o carro e atravessei a cidade. Fui para o restaurante que vendo o melhor paillard com spaghetti e apreciei a vista. Uma das coisas que se aprende quando se está sozinha é se entreter consigo mesma e ser presente. Neste dia, inaugurava o sapato da nova coleção da Arezzo e me sentia a pessoa mais sortuda do mundo por poder viver coisas fúteis por merecimento.
Não demorou muito recebi um telefonema. Mesmo em um dia em que tudo parecia ir de acordo com o que se tinha planejado, algo saiu fora do combinado. A notícia veio, e de uma hora para outra as coisas tomaram outro rumo.
Sai do restaurante em busca de um sorvete. Em apenas uma quadra pude notar que o antigo hotel tinha se transformado em cafeteria e no lugar de uma loja de sapatos uma nova loja de chocolates tinha sido inaugurada, proporcionando uma fila quilométrica no caixa. Nada daquilo parecia familiar, e só conseguia me perguntar há quanto tempo não ia para aquele lugar.
Sentei em um local novo e desconhecido e pedi um brownie com sorvete. Ao meu lado uma senhora de cabelos grisalhos lia seu livro com seu belo chapéu. Ela folheava o livro cujo título estava em espanhol e curtia o sol de maneira tranquila. Não conseguia parar de pensar como ela conseguia em meio de tanto barulho e correria, se fixar em algo tão simples. Do outro lado do salão vi uma criança no colo de um homem. A criança era inquieta e tinha uma energia tamanha para sair correndo se ficasse um minuto no chão. Ela parecia ser mais rápida que o entorno. Mesmo com pouca idade já mostrava que tinha muito ali dentro.
Terminei a sobremesa e pedi a conta. Ainda um pouco balançada com tudo o que tinha acontecido no dia, decidi andar pelas ruas. Procurando por conforto e algo familiar, adentrei a livraria da cultura que fica no complexo das Nações Unidas. Aquele lugar para mim tem cheiro de infância, juventude e muitos outros momentos. Quando era adolescente e ia correndo comprar um CD que tinha acabado de lançar. Ou quando, sentava por horas na escadaria para ler aquele livro que os pais não deixavam comprar.
Tudo muda muito rápido, e tem que saber aproveitar cada momento. Se tem algo que nunca vai voltar é o tempo. Valorizar o agora sem projetar muito lá na frente, mas também não se esquecer no que já se foi. Em uma cidade rápida, que tudo acontece ao mesmo tempo é preciso estar sempre se atualizando para que nada escape. Por isso, também é importante se dar um tempo para que nada se atropele.
Entrei no carro e dei partida. Naquele dia tinha virado a chave para os 24 anos, e me dei conta do quanto eu tinha vivido, mas também o quanto ainda tenho para viver. O que veio antes me ensina a viver o agora, e o agora me mostra o caminho para o depois. São Paulo é cheia de suas complexidades, e por isso me identifico tanto com a cidade. O pôr do sol reflete nos prédios de vidro, e uma beleza momentânea só reforça a certeza que tudo o que eu tenho que fazer é continuar dirigindo.
A.M.

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