As longas avenidas e os altos viadutos compõem a grande cidade de São Paulo. De norte a sul, encontrará rodovias e estradas que podem te levar muito mais longe. É nesse vai e vem que a cidade se preenche de novas histórias e diferentes pessoas.

Não faz muito tempo desde que percebi que o caminho que eu estava escolhendo não sustentava mais as antigas caronas. Já haviam diversas placas sinalizando para parar e esvaziar o carro, mas eu ainda insistia em pegar a via de retorno. Até que um dia, sem aviso, me vi dirigindo o automóvel sozinha, e esse sentimento me acompanhou por longas horas de viagem.

Sempre considerei amizade algo essencial na vida. Talvez por ser filha única, sempre procurei preencher esse espaço com as pessoas que cruzavam o meu caminho. Mas a verdade é que: amigo não preenche absolutamente nada. Mas isso demorou um pouco para eu entender.

Foi em um sábado à tarde que surgiu a possibilidade da Mariah vir para São Paulo. O que foi suficiente para animar os amigos a se reunirem em algum ponto diferente da cidade. Como o Pedro já tinha sugerido um lugar novo, decidimos arriscar. Só precisava de um look que combinasse com uma tarde de calor no meio do inverno.

Com algumas horas de atraso, trânsito na radial e uma ligação de desespero, chegamos na Lote. Localizada no coração de Pinheiros, o espaço é famoso no termo “praia de paulista”. São as cadeiras de praia em contraste com o concreto, as plantas com os grafites em tons vibrantes que trazem toda a indignação alheia. Contudo, basta uma cerveja gelada e música de qualidade para estender até a hora de fechar. E basta apenas uma pergunta retórica, para atravessar as ruas do bairro a caminho do after.

Sem cumprir com a promessa de voltar para casa cedo, encarei a decisão e decidi me divertir ao máximo com quem estava ali — já que fazia um tempo desde que não encontrava toda a galera em uma só noite.

A energia caótica do lugar, o 8º melhor DJ do mundo tocando, os muitos copos de cerveja e algumas outras coisas, me levaram a trocar olhares com quem estava do outro lado da pista de dança. Talvez tenha sido o meu jeito desconcertado, ou a miopia que havia aumentado, mas alguma coisa aconteceu que fez com que eu transmitisse um sinal para quem me encarava do outro lado, e sem demorar, ele se aproximou dizendo seu nome.

Não houveram muitos motivos para criar uma história de amor, mas o alívio veio mais tarde, quando descobri que certas profissões são mais bonitas em segredo. Porém, o ato mais corajoso da noite não foi a revelação do ator, mas o impulso de querer subir ao palco às 3 horas da manhã.

Aquela altura, posso afirmar que tudo ocorreu de forma intuitiva, mas ao pegar o microfone, a sobriedade bateu como uma pedra em minha cabeça, só que já era tarde demais para desistir. Ao começar a cantar, certo desespero apareceu, mas bastou o refrão começar para eu avistar, no canto esquerdo, os meus amigos acenando e cantando a música que por acidente, foi muito bem escolhida para o momento.

Depois de muitas garrafas de água e uma manhã de ressaca, eu entendi que amigos não preenchem absolutamente nada, até porque, eles não estão aqui para completar ou tapar os buracos. A amizade não serve para resolver sua vida ou tomar as decisões por você. Amigo é mais profundo do que isso, é completo, e é verdadeiro. Amigo não finge, não foge e não está ali para satisfazer suas vontades. Amigo é aquela pessoa que não quer pegar carona no teu carro, pois ele sabe que você está no seu caminho, mas ele aceita dirigir por essa estrada da vida ao seu lado. E naquela noite, eu coloquei a música no rádio do meu carro porque “I’m so happy, coz today I found my friends”.

A.M.